Fico desanimado quando regresso a um local que ajudei a
construir e constato que este tem vindo a ser destruído sucessivamente. Muitos
não chamam de destruição, mas sim de adaptar os poisos às suas necessidades ou
às suas prioridades. O que mais me chateia é que para muitos esta atitude é
completamente normal, e não se apercebem da enorme falta de respeito que tem
para com os outros fotógrafos de vida selvagem e para quem construiu todo o
espaço (com sangue, suor e lágrimas). E sim, é uma grande falta de respeito
alterar poisos num local que não fomos nós a construir, mas o pior é que para
além de os mudarem de local acabam também por os partir para conseguir (mas já
lá chego).
Antes de continuar o desabafo, e para facilitar quem não
conhece bem estas andanças, vou dar uma pequena explicação. Um
comedouro/bebedouro com um abrigo e de acesso à maioria dos fotógrafos está
desenhado para satisfazer todos os fotógrafos. Isto é, apresenta locais para
conseguirmos fotografar todas as espécies que podem surgir. Os pequenos passeriformes
devem ser fotografados nos ramos mais pequenos, pois as aves devem preencher
mais da fotografia do que os restantes elementos naturais e depois porque é
mais apelativo observar as suas pequenas patas a agarrarem os troncos pequenos,
e não um tronco gigante. Eis um pequeno exemplo:

Depois existem os troncos grandes para fotografar as
espécies maiores, como os pica-paus ou como a trepadeira-azul. Nestes troncos as
aves mais pequenas também acabam por poisar, no entanto, cabe ao fotógrafo conseguir
determinar quais os melhores spots para as fotografar e evitar fotografá-las
nestes troncos grandes. Estes troncos tentam levar as aves a manter
comportamentos naturais, como as trepadeiras à procura de alimento e a escondê-lo
na casca. E por isso é preciso paciência para conseguir obter as melhores
fotografias, em especial das aves grandes que nem sempre poisam onde as
queremos. Eis um exemplo:

E ainda temos a questão do sol. O sol, ou a Terra, variam ao
longo do ano mas também ao longo do dia. Teremos poisos com sol logo às nove da
manhã mas que estão à sombra às onze, e outros que apenas ficam ao sol às onze.
Se tivermos paciência apontamos apenas para a região onde o sol bate e tiramos
boas fotos, e como existem muitos poisos conseguimos ir rodando com o sol e
continuar a tirar boas fotografias ao longo do dia. Caso tenham apenas um
poiso, terão apenas uma margem muito curta para conseguir boas fotografias. Este poiso encontrava-se à esquerda do abrigo e apenas era iluminado depois do sol passar pela traseira do abrigo.

Aqui está o grande dilema. Quando algum dito fotógrafo de
vida selvagem, um autêntico expert na matéria, decide partir todos os tronquinhos
pequeninos porque apenas lhe interessa fotografar uma espécie e acaba por
estragar o trabalho de meses para os restantes fotógrafos. E quando chega outro
expert e continua a fazer alterações ao seu gosto, e no dia seguinte chega
outro, e depois outro, e assim sucessivamente. Quando regressamos ao local todas
as alterações transformam este local de excelência para a fotografia, numa
autêntica porcaria. Sim, dá para fotografar as aves grandes, as tais que tanto
pretendem mas que depois nunca conseguem porque não tem paciência para ficar lá
dias fechados. Mas as restantes aves, que para muitos dos experts são aves
banais e que não tem interesse, acabam por deixar de ter poisos para fotografar,
e os que as querem fotografar ou nunca fotografaram acabam por ter dificuldade
em fazê-lo. Depois há ainda a questão da coloração dos poisos e do corte dos
mesmos. A primeira questão é que os poisos devem ser escuros, se forem brancos
acabam por ficam todos “queimados” com o sol (na fotografia), e muitos dos
novos poisos que surgiram são precisamente brancos (e eu recuso-me a fotografar
nestes poisos). E a última questão é que os poisos não devem apresentar cortes,
quer seja com uma serra ou uma tesoura de poda, devem estar o mais natural
possível. Evitando estarem partidos ou com outras características que não sejam
apelativas para a fotografia. Eis um exemplo dos troncos que foram colocados no inicio do abrigo, durante a fase de testes e que foram depois substituídos quando melhores foram encontrados.

Já fui criticado muitas vezes por estes experts por alegadamente
não saber o que estou a fazer. No entanto, podem verificar a minha galeria de
fotografias e constatam tudo o que acabei de dizer. Aves pequenas ficam melhores
em troncos pequenos, e aves grandes em troncos grandes. Se virem as horas das
fotografias também constatam que começava a fotografar com o nascer do sol e
ficava até 4 horas depois, e que as aves aparecem em poisos diferentes, pois
estes ficavam disponíveis consoante a direcção da luz. De lembrar ainda que
estamos num parque natural e que não devemos cortar árvores e plantas vivas,
todos os poisos demoraram meses a encontrar, pois apresentavam características únicas
e nenhum deles foi cortado. A introdução de poisos de outros locais também é
desaconselhável, pois pode tornar-se uma infestante. O problema é que se
visitar o local neste momento vai-me chamar de maluco, mas devo de dizer que
todos os tronquinhos pequeninos de que eu falo já desapareceram. Assim como
alguns dos melhores poisos que foram colocados, e assim, não conseguem
compreender perfeitamente do que falo. Apenas eu fico triste e desanimado.