quinta-feira, 10 de março de 2016

Desabafo II: Cientistas vs Fotógrafos



Por mais do que uma vez me perguntaram se era possível ser um cientista, isto é, um biólogo, e ser um fotógrafo de vida selvagem ao mesmo tempo. Não só e possível como deveria de ser obrigatório! Como cientista (investigador) já participei em inúmeras investigações e lidei com diferentes espécies, desde aves, anfíbios, mamíferos, repteis, peixes, insectos, entre outros. No entanto, tudo o que fazíamos seguia uma série de regras de segurança e bem-estar animal. Em nenhum momento sentimos que o nosso trabalho em prol da ciência viria a alterar profundamente a própria natureza. Os estudos com uma vertente científica permitem avançar no conhecimento que temos sobre as espécies e no final podem contribuir para a sua conservação. Mas onde encaixa a fotografia de vida selvagem? A fotografia de vida selvagem permite divulgar estas espécies e trabalhos ao público que não está habituado a observa-las em estado selvagem ou nalguns casos desconhecendo que tais espécies existem em Portugal e que por isso merecem ser conservadas. A fotografia aliada à ciência pode ainda permitir descortinar alguns pormenores mais difíceis de observar, como variações de plumagem em determinados indivíduos, ou a leitura de anilhas no campo sem ter de recapturar a ave, entre outros pormenores. Então mas porque existe um conflito tão grande entre ambos? Não vou entrar muito neste tema, mas sim concentrar-me numa pequena história que aconteceu recentemente.


No entanto, por detrás de todo o trabalho de construir abrigos fotográficos existe um outro intuito, o estudo científico. Ao mesmo tempo que os abrigos eram desenhados e montados demos início a um plano de conservação que passava pela monitorização da fauna. A anilhagem criou um novo conflito com os fotógrafos: redes vs fotografia.


Numa das últimas sessões de anilhagem tivemos o primeiro grande conflito. Quando um fotógrafo de vida selvagem decidiu ir aos abrigos tirar fotografias. Foi avisado na recepção que tínhamos estado a anilhar, mas não sabiam informar se ainda estávamos ou não a anilhar. Durante as voltas à rede o técnico responsável pela anilhagem naquele dia deparou-se com o fotógrafo de vida selvagem a cortar deliberadamente as redes para soltar as aves, algumas ainda embrulhadas na rede. Ao tomar esta atitude ele danificou material de anilhagem dispendioso e a sua “boa ação” pôs em risco o bem-estar das aves. Sendo que algumas continuavam entrelaçadas nas finas redes.


Esta atitude prova que pode ser impossível a convivência entre cientistas e fotógrafos nos moldes atuais, e que algo terá de ser modificado para permitir que as atividades científicas decorram sem perturbações. Anteriormente falei sobre a atitude de alguns fotógrafos que gostam de mexer nos abrigos à sua maneira, estragando as sessões para os que vierem a seguir, estas atitudes continuam e tem vindo a agravar-se com poleiros removidos e partidos deliberadamente (link). Com todos estes problemas em mente algo terá de mudar nos próximos tempos.



Respeitem a natureza, respeitem os animais e respeitem os outros fotógrafos e visitantes do espaço.

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