O abutre-preto (Aegypius monachus) é uma espécie
mundialmente quase ameaçada (NT), no entanto, em Portugal o seu estatuto de
conservação é criticamente em perigo (CR). Atualmente decorre um projeto LIFE
Habitat Lince-Abutre que visa protegê-lo e ao seu habitat.
Este abutre do velho mundo é a maior ave de rapina da Península
Ibérica, e uma das maiores da Europa. Nidifica na região mediterrânica,
principalmente na Península Ibérica, Sul de França e outras regiões mais a sul
(como a Grécia). A sua população reprodutora Europeia encontra-se estimada
entre os 1450 e os 1477 casais, no entanto mais de 90% dos pares reprodutores, cerca de 1340,
localizam-se na vizinha Espanha.
Prefere habitar regiões rochosas e com grandes declives,
usualmente florestadas com pinheiros ou carvalhos, e onde as correntes de ar
ascendentes criadas pelos ingremes montes facilitam a descolagem. Os montados são os locais de eleição para a alimentação,
este complexo sistema agro-pastoril, onde o número medio de árvores por hectare
é de apenas 50 e o principal uso do solo é o pastoreio de gado, revelou-se um
excelente habitat para os abutres-pretos procuraram carcaças de animais
(mortos).
A dieta deste magnífico e imponente necrófago consiste em
carcaças de animais de pequeno e médio porte. O coelho-bravo (Oryctolagus
cuniculus) é o elemento chave da sua alimentação e as recentes diminuições das
populações de coelho-bravo levaram à diminuição dos recursos alimentares. O
aumento das áreas de criação de gado e o aumento das regiões e herdades
destinadas à caça grossa (montarias), contribuem para a diminuição das fontes
de alimento para esta espécie, que ao contrário do mais abundante grifo,
prefere pedaços mais pequenos para se alimentar. As alterações nas políticas
agrícolas comuns (CAP) e nas regras de segurança alimentar também originaram
uma diminuição dos recursos alimentares, pois o gado que morre por causas naturais é recolhido pelos proprietários.
Este necrófago consegue procurar alimento por grandes
superfícies e chega a percorrer enormes distâncias, devido à sua grande
envergadura (asas grandes) e tamanho, possui uma grande facilidade em
aproveitar as correntes de ar naturais. Os seus requerimentos energéticos e a
imprevisibilidade espácio-temporal dos seus recursos naturais obriga-o a
percorrer enormes distâncias para encontrar alimento. O tempo percorrido à procura de alimento depende da
quantidade de luz disponível e das condições climáticas. Na primavera eles
dispõem de mais tempo de voo (cerca de 11 horas), no entanto, no inverno esse
tempo é drasticamente reduzido (apenas 7 horas), obrigando-os a levantar voo
mais cedo e perto do crepúsculo, para maximizar o seu voo. Os dias chuvosos
impedem o seu voo na maioria dos dias de inverno.
A criação de comedouros, autênticos restaurantes para aves necrófagas
(tal como o grifo e o abutre-preto) podem ser uma solução, no entanto, a
solução perfeita será conservar o seu habitat de alimentação, o montado. No entanto, o montado tem vindo a desaparecer. Este habitat
semelhante a uma savana tem vindo a ser sucessivamente substituído por
monoculturas, tem sido abandonado, sofrido sobre pastoreio e nalguns casos foi
convertido em culturas irrigadas. Os seus locais de nidificação estão usualmente localizados
perto dos montados.
O abutre-preto nidifica em árvores de grande diâmetro,
baixas e com poucas árvores em redor, em zonas do terreno ingremes e a grandes
distancias das estradas de acesso. Os ovos são colocados entre Fevereiro e
Março, e a (s) cria (s) permanece (m) no ninho durante mais de 110 dias. Mas a impredictabilidade
na obtenção de alimentos envolve grandes investimentos parentais. No entanto,
os indivíduos em nidificação encontram-se obrigados a regressar todos os dias
aos seus ninhos (ou colonia) e possuem um comportamento de forrageadores mais
centralizado.
A sua escolha do local de alimentação é um conjunto de fatores
entre os habitats disponíveis e a distância aos mesmos. Para o conservar há que
preservar árvores velhas e antigas. Há que manter as zonas de nidificação como
um santuário de abutres e sob proteção especial, e manter outros locais de
possível nidificação mas ainda não utilizados, com poucos distúrbios e sem o
corte de árvores, tal como avaliar possíveis alterações no habitat e o seu
impacte no abutre-preto.
Os motivos do seu desaparecimento encontram-se associados à
perda do habitat, à diminuição dos recursos alimentares disponíveis devido a
alterações nas práticas agrícolas e pastoris. A última e principal causa de
mortalidade e desaparecimento do abutre-preto é o envenenamento.
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