GUIA DE FAUNA DA TAPADA DA AJUDA

Todos os posts relativos ao meu livro GUIA DE FAUNA DA TAPADA DA AJUDA! Desde "Como Comprar", a todas as notícias e entrevistas que sairam relativamente ao guia. Se necessitar de mais informações basta entrar em contacto através do e-mail onwild@dophotography.net. Muito obrigado a todos.

MINI-ARTIGOS SOBRE AS ESPÉCIES

Nesta secção encontram-se mini-artigos sobre as espécies, de forma sucinta e clara, ficamos a conhecer um pouco mais sobre a nossa fauna. Ilustrados com as melhores fotografias da espécie.

AS MINHAS MISSÕES

Ao contrário dos artigos, nas missão explico como consegui fotografar as espécies (ou observar). O que sofri e as peripécias para as conseguir fotografar tranquilamente e sem as perturbar.

TRUQUES E DICAS

Nesta secção poderá encontrar alguns truques e dicas sobre fotografia de vida selvagem e de natureza, desde as técnicas utilizadas na máquina como algumas das técnicas utilizadas no terreno.

ABRIGOS

Para além dos vários truques, existem também alguns abrigos já montados que podemos frequentar em Portugal e outros tantos em Espanha. Serão apenas colocados abrigos que tenha frequentado.

UM MÊS...UMA AVE

A Fundação Calouste Gulbenkian com o apoio científico da Fundação Luis de Molina e da Universidade de Évora apresenta nos jardins da fundação em Lisboa o projeto "UM MÊS...UMA AVE". Todos os meses foi apresentada uma espécie presente nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian. A lista de espécies do primeiro ano está terminada.

Canal Youtube onWILD

Novo canal no youtube destinado apenas a filmagens de vida selvagem. Subscrevam.

Definições Canon 7D Mark II

As definições que utilizo na minha máquina para a fotografia de aves.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Missão: Coruja-das-torres I



Tudo apontava para um grande dia a fotografar. De manha fui bem cedo para Pancas antes do início das acções de voluntariado para a SPEA no âmbito do projeto "Linhas Elétricas" e consegui fotografar uma águia-calçada demasiado perto de mim. Passei o dia a caminhar debaixo de linhas elétricas à procura de aves mortas por colisão ou por eletrocussão, debaixo do calor e a ver libélulas e insetos esquisitos por todo o lado. Tivemos a companhia de um simpático e amigável cão que protagonizou uma autêntica cena de um filme ao tentar "saltar" uma vala de um lado ao outro, mas esquecendo-se que já estava demasiado pesado, foi ver uma enorme bola de pelo a saltar, a ficar parado no ar por uns segundos e a desaparecer dentro da vala (de meio metro), surgindo uns segundos mais tarde todo contente a correr na nossa direção. Depois decidiu dar um mergulho e enquanto nadava aproveitava para beber água, claro que quando saia molhava tudo e todos, depois como quem não percebia o que fazia vinha roçar-se nas nossas pernas para se secar mais depressa. Fomos perseguidos por gado bravo (vacas e cavalos com crias) que olhavam para nós e julgavam que tínhamos comida para eles.

 
No final de tudo isto finalmente tive tempo para ir fotografar as corujas-das-torres (Tyto alba) à ponta da erva, como as atividades acabaram cedo tive de ficar algum tempo à espera (4 HORAS!!), mas como aquela região é bastante rica biodiversidade deu para estar entretido a fotografar as águias-sapeiras, os flamingos, e a tentar fotografar os peneireiros-cinzentos que nem se deixavam aproximar. Findo tudo isto, concentrei-me nas corujas-das-torres. Primeiro que tudo verificar o material, pinhas cheias e novas, baterias carregadas, modo manual selecionado e preparado para a fotografia noturna, foco bom e potente a funcionar (julgava eu), foco pequeno e a bateria não oferece luz suficiente e a lanterna de mão para casos de emergência em posição. Algum tempo de espera e chegava finalmente a noite, liguei o foco ao isqueiro do carro e comecei a percorrer os postes à procura de corujas. Encontrei o que julgava ser uma coruja, liguei o foco e booooommmm!! Faíscas a sair do isqueiro e rádio pifou... Desliguei e voltei a ligar e nada. Rádio nada. Começou bem, pensava eu. O que julgava ser a coruja era afinal um peneireiro-cinzento que rapidamente fugiu com aquele aparato todo. Restava-me apenas os faróis do carro, que por azar não conseguem iluminar os postes, ficando a iluminar o chão, mas tinha de ser suficiente. Percorri a estrada e nem um sinal de corujas, nada de nada, ao longe vi que se aproximava um carro e que vinham com um foco, uns segundos depois e vejo um flash, também estavam às corujas. Parei o carro e esperei que parassem de fotografar como qualquer bom fotógrafo faz, para evitar incomodar os animais ou levar a que os mesmos fujam. Quando finalmente passaram por mim levavam os máximos ainda ligados e para chatear apontaram o foco na minha direção (só pensava "obrigadinho" pelos meus olhos...). Segui na direçao oposta para tentar a minha sorte, mas nada.

 
Só meia hora mais tarde encontrei a primeira coruja, apontei o carro na sua direção e puff... Máquina não a queria focar, bolas, só pensava "mais vale ir já para casa..." mas já lá estava há mais de quatro horas, não ia desistir agora. Depois disso, encontrei mais de 20 corujas e consegui fotografar mais de metade, mesmo com o flash a demorar quase meia hora a recarregar (julgamos nós, quando mais precisamos cada segundo parece uma eternidade). Não apanhei nenhuma coruja com um ratinho no bico, mas fui-me concentrando noutro tipo de fotografia, corujas em pleno voo. Como estava lua cheia conseguia vê-las a pairar no ar, só tinha de conseguir focar na escuridão e disparar...Nada feito, tudo desfocado, restava quando as apanhava paradas e saiam a voar, o problema é que sem foco ao levantarem voo saiam do raio de acão dos faróis do carro e as fotografias ficaram todas desfocadas ou sem corujas.
 
Um dos objetivos foi cumprido, restando outras fotografias que gostava de realizar. Resta agora arranjar o foco e tentar mais uma vez.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Salvamento de um pequenino ouriço-cacheiro

Avisaram-me que estava um pequenote de ouriço-cacheiro, Erinaceus europaeus, preso na entrada da herdade nas juntas utilizadas para o gado não sair (aquelas dos cilindros).

EXIF 1/200s, f/8, ISO-200
100mm, 77cm


Quando lá cheguei ele estava a um canto e mal se mexia, estava gelado e com fome. Demorei mais de 30 minutos para o resgatar, o buraco era demasiado fundo para chegar lá com o braço, precisava de arranjar um tronco grande o suficiente para lá chegar e que fizesse uma conchinha com os ramos para ele ficar preso. Ao tocar-lhe pela primeira vez fechou-se como uma bolinha de espinhos, facilitando a sua movimentação, bastava rolá-lo até aos locais. Inicialmente rolei-o para uma zona mais elevada devido à acumulação de terra, mas mesmo assim não o conseguia apanhar. Foi necessário encostá-lo à parede e lentamente ir fazendo-o subir até o conseguir apanhar, foi demoroso mas finalmente apanhei-o. Precisava de voltar para casa com ele em segurança, tinha ido de bicicleta e nas mãos era impossível transportá-lo, por isso decidi colocá-lo na bolsinha que a bicicleta possui. Assim sabia que era impossível que ele caisse e eu me espetar.


EXIF 1/250, f/9, ISO-200
100mm, 51cm

Ao chegar a casa tive de arranjar uma caixa para o colocar, alta o suficiente para ele não fugir e grande para se poder mexer. Coloquei bastantes panos para o manter quente e fiz uma pequena casinha de panos onde se podia abrigar e foi precisamente para onde ele se dirigiu. Mas não era suficiente para se aquecer. Coloquei-o entre o pano e no meu colo para o aquecer mais depressa, até que ficou cheio de calor e começou a abrir-se lentamente. Dava para ver as patinhas e o focinho, e finalmente alguns pêlos e não espinhos. Fiz-lhe algumas festas para se acalmar e ele foi regressando ao seu estado normal enquanto permanecia a dormir. De repente, notei que ele tinha umas pulgas. Fui buscar uma taça cheia de água e comecei a apanhar pulgas, foi aí que percebi a confiança que ele me dava, conseguia tirar até as pulgas que andavam perto dos olhos e do nariz sem que ele se queixasse, escondesse ou mordesse. Tirei 14 pulgas ao todo. Quando despertou voltei a colocá-lo na caixa à qual tinha adicionado vários alimentos, desde frutas, cereais, leite, e feito uma papa com todos estes ingredientes. Enquanto procurava mais alimentos para ele reparei num pacote de batatas fritas com sabor a presunto, pensei para mim mesmo, não custa tentar. Esfarelei um bocado de batatas fritas e ele foi direito a elas comendo-as todas, meti mais batatas até ele se fartar e voltar a adormecer.

EXIF 1/500, f/8, ISO-200
100mm, 75cm

Ao final do dia era altura de o libertar, já estava quentinho e tinha feito uma boa refeição.

sábado, 18 de agosto de 2012

Mocho-galego


EXIF

1/160s, f/8, ISO-400
500mm, 10m

Sempre que saio do abrigo da charca faço o mesmo caminho pela árvore e conjunto de pedras onde a família do mocho-galego, Athene noctua, se reúne todos os dias. Mas apenas os vejo a fugirem à minha frente, neste dia estavam a saltitar debaixo da árvore. Coloquei-me atrás de um fardo de palha e esperei, sem qualquer camuflagem, e eles apareciam para espreitar e voltavam a desaparecer. Mantendo-se sempre por perto e a brincar.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Missão: Guarda-rios

EXIF (das 3)

1/1000s, f/8, ISO-320
500mm, 4.9m

5 da manhã, o despertador toca freneticamente num local onde o silêncio e a tranquilidade é a ordem. Ainda o Sol estava completamente escondido e já eu saia para mais uma aventura. Dirigi-me para o abrigo na charca, ainda estava de noite, mas como conheço os caminhos e trilhos sigo no encalçe e na escuridão da noite até ao abrigo, fazendo o minimo de barulho. O sol tinha acabado de nascer e já este pequenote estava a mergulhar perto do abrigo. O guarda-rios, Alcedo athis, pesca a alta velocidade e utiliza vários poisos diferentes, foi então que surgiu no tronco que se encontra perto do abrigo mas a luz era nula, o sol estava ainda no horizonte e não tinha força suficiente. Pensava que nunca iria conseguir fotografá-lo neste local.





Por sorte ele voltou a aparecer quando a luz estava perfeita e permitiu-me tirar-lhe várias fotografias. Depois fez algo ainda mais inacreditável, conseguiu pescar um peixe e voltou para o poleiro. A água está verde, e o local da captura não foi diretamente abaixo dele mas cerca de 4 metros mais à frente, nunca tinha presenciado esta magnifica habilidade (de capturar o peixe longe do poiso e não diretamente abaixo).

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Missão: Abelharuco-comum


Abelharuco-comum (Merops apiaster) juvenil.



EXIF

1/1000s, f/8, ISO-400
500mm, 7.9m


Depois de uma madrugada sem sucesso a tentar fotografar o guarda-rios dentro do abrigo da charca, ao sair tive a oportunidade de fotografar o mocho-galego até chegarem os abelharucos. Era uma fotografia que ambicionava, um abelharuco parado num tronco e não nos "maravilhosos" cabos eléctricos onde eles normalmente poisam. O mais interessante foi fotografar juvenis misturados com adultos, na fotografia de cima pode-se ver um juvenil ainda apresenta a face superior esverdeada. Na fotografia de baixo é possivel observar um adulto com a garganta amarela, um lindo tom azulado no peito e um alaranjado na face superior.


Abelharuco-comum (Merops apiaster) adulto.

EXIF

1/500s, f/8, ISO-200
500mm, 5.4m

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Missão: Rolieiros

muito que ambicionava fotografar um rolieiro (Coracias garrulus), consegui fotografar um individuo na Barroca d'Alva mas a uma distância muito grande.
EXIF
1/800s, f/8, ISO-400
500mm, 7.2m

Já passava das cinco da tarde quando finalmente chegámos ao local onde iria encontrar alguns indivíduos de rolieiros, mas não sabia bem onde estavam nem como os iria fotografar. E era necessário definir uma estratégia para o dia seguinte.
EXIF
1/1250s, f/8, ISO-400
300mm, 9.1m


No dia seguinte e com a estratégia finalmente em ordem, foi chegar e fotografar, rapidamente se adaptaram à presença do carro e do camuflado, era apenas mais um arbusto que surgiu ali de repente, e começaram a realizar as suas rotinas diárias. É fácil compreender quando deixamos de ser uma ameaça porque eles entram no ninho com comida, uma ave quando se sente em perigo ou ameaçada tem tendência a afastar a ameaça para longe do ninho. Quando começou a concentrar-se apenas na alimentação das crias fiquei contente por tal acontecer, pude observar vários comportamentos dos progenitores a alimentarem as crias, mas isso significava que não iam posar para as fotografias.
EXIF
1/640s, f/8, ISO-400
500mm, 10m


De 5 em 5 minutos um dos progenitores chegava com comida no bico, passava rente ao capô do carro e entrava no ninho colocado numa habitação abandonada. Tinha pouco tempo para os fotografar, pois largavam a comida e saiam disparados para ir buscar ainda mais comida, a velocidade era infernal. Só quando paravam no topo do edifício é que os conseguia fotografar e começam a ser poucas as vezes que tal acontecia. Mas o prazer de ver o frenesim que era a alimentação era extraordinário e ter a oportunidade de testemunhar isso vale muito bem acordar às 5h da manhã.

sábado, 9 de junho de 2012

Abelharuco-comum

Merops apiaster (Linnaeus, 1758)


    Há muito que ambicionava fotografar abelharucos, muitas tentativas frustradas e muito pouco sucesso. Aos poucos e poucos lá vou conseguindo fotografias 1 centímetro mais perto e mais perto, mas nenhuma fotografia sai como eu gostaria. Horas "perdidas" no campo à procura deles carregado com a máquina, o abrigo e o tripé, muita coragem e vontade, mas muito pouca sorte. Ultimamente as aves não querem nada comigo. Se vou de carro fogem quando ainda estou a 30 metros delas, com o abrigo gozam comigo e ficam atrás do abrigo e não à frente (entre mim e o sol), chamamentos também não resultam e colocar comida também não tem levado a nada (aparecem quando eu não estou). A minha sorte com as aves este ano é zero, algo a que já me habituei e nem fico chateado, limito-me a dizer: "são sempre a mesma coisa" e sigo caminho.




    Os abelharucos fogem-me há alguns anos, mas aqui para os lados do Alentejo parece ser mais fácil observá-los, mas e fotografá-los? Nada disso, isto é enorme!!! É difícil descobrir onde vão estar amanha e ninhos? Nem vê-los. A maioria das propriedades é privada, maioria? Disparate! São todas!!! Isto torna difícil saber onde podemos caminhar para observar aves. As estradas de acesso encontram-se com portões e fechadas, embora muitas delas sejam de serventia e de acesso livre supostamente. Na herdade da Mitra posso andar à vontade, mas os abelharucos estão precisamente na herdade ao lado. Pedir autorização é sempre necessário, mas a quem? Como descubro o proprietário? Só invadindo a propriedade e rezar não levar nenhum tiro, depois explico a situação e sou corrido a pontapé!!! Poucos são os que permitem tal coisa, um maluco a observar passarinhos? Ainda por cima cheio de camuflagens? Fora do meu terreno, ele anda aqui é a espiar e a roubar!!





    Mas finalmente consegui umas fotografias perto dos abelharucos, enquanto ia na estrada apanhei um bando parado nos fios, não é a situação ideal, mas com o azar que tenho tido ultimamente confesso que já fiquei contente.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Musaranho-de-dentes-brancos

O musaranho-de-dentes-brancos, Crocidura russula, é um avido caçador e incansável, pois tem de ingerir diariamente uma quantidade de alimento equivalente ao seu peso. Atinge os 9 cm de comprimento e a cauda chega a ter 5 cm. As orelhas são grandes e visíveis, e apresenta os dentes brancos, como o nome comum indica. Encontram-se habitualmente em terrenos secos e soalheiros, tal como em pradarias, jardins e parques.

São animais solitários e escavam as suas galerias ou aproveitam as de outros roedores ou as das toupeiras. Alimentam-se de insetos, aranhas, centopeias, minhocas, caracóis e por vezes carne putrefacta.

Os exemplares aqui fotografados foram “recolhidos” durante a saída de campo de Técnicas de Amostragem de Fauna do Mestrado em Biologia da Conservação, onde foram demonstradas técnicas de captura de micromamíferos, foram recolhidos vários dados anatómicos dos exemplares capturas e depois foram libertados no local onde foram capturados. Para muitas pessoas estas situações são “cruéis” no entanto, são necessárias para se determinar diversos aspetos dos locais e das próprias populações de micromamíferos existentes. O manuseamento é então fundamental, pois observações diretas são difíceis de conseguir e demorariam imenso tempo a concretizar.

Tritão-de-ventre-laranja

   O tritão-de-ventre-laranja, Lissotriton boscai, atinge apenas os 9 cm de comprimento e possui uma distribuição por quase todo Portugal continental. Possui uma coloração acastanhada no dorso e o ventre de coloração alaranjada, por vezes pode ser confundido com o tritão-palmado, embora este não possua o ventre laranja.
F/8   1/250   ISO-100
   Permanece todo o ano na água em algumas regiões, no entanto, o normal é apresentar uma época terrestre e usar o meio aquático durante a época de reprodução. São nocturnos durante o período terrestre, no entanto, durante a fase aquática apresentam hábitos noturnos e diurnos. Alimentam-se de pequenos invertebrados aquáticos quando no meio aquático e de invertebrados moles quando se encontram em terra.
F/8 1/250 ISO-100
   O primeiro individuo que apanhei encontrava-se a passear em terra, tive oportunidade de passar alguns minutos a fotografá-lo debaixo de uma chuva chata, no entanto, o segundo individuo encontrava-se numa pequena charca e, embora estivesse mau tempo, deu para o fotografar.

Salamandra-de-pintas-amarelas

F/8   1/250   ISO-400
   A salamandra-de-pintas-amarelas, Salamandra salamandra, atinge facilmente os 17 cm de comprimento e uma coloração preta com pintas amarelas, tal como o nome indica. O primeiro individuo que fotografei ia morrendo esmagado, visto estar a atravessar uma estrada onde eu circulava durante a noite. Era bastante grande e tornou-me difícil as manobras para não o atropelar, no entanto, saiu ileso e prossegui o seu caminho depois de lhe tirar umas fotografias.
F/5.6   1/250   ISO-100
   O segundo individuo que fotografei era consideravelmente mais pequeno, cabia na ponta do meu dedo e foi a salamandra mais pequena que fotografei. Encontrei-a durante a saída de campo da cadeira de Técnicas de Amostragem de Fauna do Mestrado em Biologia da Conservação. Levantei uma pedra numa ribeira que estava seca quando era suposto ter água corrente e lá estava ela. Ainda consegui tirar umas fotografias até a devolver à mesma rocha onde acabei por tirar mais umas fotografias.
F/8   1/250   ISO-100

   Possuem hábitos noturnos e terrestres na fase já adulta, usando o meio aquático apenas para se reproduzir. Alimentam-se de invertebrados terrestres, como escaravelhos, formigas, minhocas, lesmas, aranhas e centopeias.

terça-feira, 13 de março de 2012

Cobra-cega

A cobra-cega, Blanus cinereus, é um dos répteis endémico da Península Ibérica mais interessantes da nossa fauna. Esta espécie possui os olhos atrofiados e cobertos por escamas, sendo apenas visíveis dois pontinhos negros sob a pele (ver imagens). Tem um aspeto vermiforme, não possuem membros e chegam a medir 28 cm. É uma espécie inconfundível devido à sua coloração roxa, cinzenta ou arroxeada e ao seu aspeto.
Pode ser encontrada de Fevereiro a Novembro, no entanto, é na primavera e verão que ocorrem mais observações. Os seus hábitos são maioritariamente subterrâneos, tendo atividade tanto de dia como de noite, possuindo uma excelente capacidade para escavar tuneis. Protege-se debaixo de pedras e rochas até atingir a sua temperatura ótima (entre 19 a 24 C).
A sua biologia reprodutora continua um mistério, no entanto, a sua atividade reprodutora inicia-se antes da primavera, colocando um único ovo alongado e de grande tamanho durante junho e julho. Atingem a maturidade sexual após o primeiro ano de vida.
Alimentam-se de formigas, larvas de insetos e outros artrópodes subterrâneos. Possui bastantes predadores, como o sardão, cobras, aves e até pelo sapo-comum, no entanto possui varias técnicas de defesa, como a autotomia da cauda, enrola o corpo sobre si mesmo e por vezes contorce-se violentamente, podendo inclusivamente chegar a morder, no entanto não possui veneno e é inofensiva para o Homem. É uma espécie termófila, ocupando áreas com clima mediterrânico. Habitat em zonas com solos pouco compactos e com uma certa humidade.

Pica-pau-malhado-pequeno

O pica-pau-malhado-pequeno ou pica-pau-galego, Dendrocopos minor, é o pica-pau mais pequeno da nossa fauna, atingindo apenas os 29 cm de comprimento. É um anão, de corpo pequeno e rechonchudo. Os machos possuem a coroa de coloração avermelhada.
Reproduz-se em bosques de árvores de folhas caducas, pomares velhos, parques. Esta foi uma grande surpresa enquanto fotografava o guarda-rios, apenas consegui fotografar a fêmea mas futuras tentativas poderão ter mais sucesso. Não utilizei qualquer abrigo ou rede camuflada, estava apenas a passear e ela ficou à minha frente a fazer aquilo que mais gostam de fazer, dar “marteladas” nos troncos à procura de insetos.

Rela-meridional


A rela-meridional, Hyla meridionalis, pode facilmente atingir os 5 cm de comprimento e ser confundida com a sua congénere rela-arbórea, Hyla arborea. A sua coloração é esverdeada, embora possa variar desde o castanho ate ao cinzento, nos flancos apresenta a característica banda escura desde o orifício nasal ate à inserção dos membros anteriores, ao contrário da rela-arbórea em que a banda termina na inserção dos membros posteriores. As fêmeas são usualmente maiores que os machos, no entanto, estes apresentam um grande saco vocal que utilizam durante a época de reprodução.
A sua atividade é noturna e por vezes crepuscular, durante a época de reprodução pode ser observada durante o dia. O período reprodutor vai desde fevereiro a abril, e os machos agrupam-se, cantando em coro. As fêmeas depositam cerca de 1000 ovos por entre a vegetação aquática, as larvas eclodem pouco tempo depois e passados 3 meses já se metamorfosearam em adultos, mas apenas atingem a maturidade sexual aos 3-4 anos e podem viver ate aos 10 anos. Alimentam-se de invertebrados, e as larvas de matéria vegetal e detritos. Habita zonas húmidas com abundante vegetação, como charcos, pântanos, lagos, lagoas e poços.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Lontras-europeias - Parte II

Desde miúdo que assisto a documentários da BBC e da National Geographic, e desde essa altura que sonho em realizar o meu próprio documentário. Mas por motivos monetários e relacionados com a minha jovem idade, sempre foi muito difícil poder concretizar este sonho. Achei que o melhor ponto de partida seria começar a registar a vida selvagem e por isso adquiri a minha primeira máquina fotográfica digital em 2006, trazia um conjunto de lentes que deixava a desejar mas foi com ela que aprendi os mais variados truques e aprendi a “trabalhar” com a máquina e deixar o automático completamente de lado. Mais recentemente adquiri uma máquina que para além da fotografia também permite filmar, este upgrade ajudou a melhorar a qualidade das minhas fotografias e permitiu-me evoluir pessoalmente e começar a procurar novos assuntos e novos ângulos. E também me permitiu estrear na realização de pequenas filmagens (e de treinar), algo que nunca tinha tido oportunidade de o fazer até então.
Outro grande sonho, de qualquer fotógrafo, é a observação de mamíferos. E um desses mamíferos é precisamente a lontra-europeia, Lutra lutra, a qual quase todos desenvolvem uma relação amor/ódio devido à difícil tarefa que é observá-las, quanto muito registá-las numa fotografia. Vamos para o campo e vemos dejectos e pegadas, mas nem sinal delas. Quando finalmente as avistamos só vemos uma cabecinha a mergulhar e a desaparecer por completo.
Mas eis que algo de extraordinário acontece, num belo final de dia quando estava em passeio me deparei com várias lontras ao longe a “lutar” ou a “brincar” entre elas, ficou uma dúvida no ar, seria este o território delas ou estavam apenas de passagem? Alguns dias depois, montei o abrigo perto de onde as tinha observado mas não encontrei as lontras, apenas dois guarda-rios que pararam mesmo à minha frente. As lontras, estariam apenas de passagem, virei a minha atenção para o guarda-rios e em fotografá-lo. Num outro final de tarde, montei o abrigo para fotografar o guarda-rios mas este teimou em aparecer quando a noite já se estava a instalar e não consegui nenhuma fotografia como desejava, decidi que na manha seguinte tentaria de novo e tentaria compreender que locais são os que ele gosta de parar para mais tarde fotografá-lo.
Mas ao invés de fotografar o guarda-rios voltei a encontrar as lontras, e pude ficar horas a observá-las e a estudá-las como biólogo. Verifiquei que uma delas era o macho, por apresentar um comportamento mais solitário ficando a sozinho e afastando-se das outras lontras. Raramente saia de dentro de água e possuía excelentes capacidades de caçador.
Enquanto a progenitora fica encarregue de educar e alimentar as duas crias, que são bastante brincalhonas e adoram sair da água e dar uns mergulhos. Elas apresentam já alguma autonomia e conseguem capturar alguns peixes, mas continuam bastante dependentes da sua progenitora. Observa-se muitas vezes que quando a progenitora mergulha as crias seguem-na para a observar a capturar o alimento, mas depois partem para mais brincadeiras e por vezes são repreendidas pela progenitora e voltam a prestar alguma atenção nas suas caçadas.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cria de gibão-de-mãos-brancas

   O gibão-de-mãos-brancas, Hylobates lar, é um gibão proveniente da região do sul da China à Tailândia, ele habita preferencialmente florestas tropicais e raramente vem ao solo, deslocando-se no topo das árvores usando os seus longos e fortes braços. É um animal frugívoro, ou seja, mais de metade da sua alimentação são frutos, embora também se alimente de folhas, alguns insectos e de flores. São animais diurnos e encontram-se bastante ameaçados devido à sua caça para alimentação, à sua captura para serem animais de estimação (matam os pais e retiram as crias) e por último à destruição do habitat.
   Este pequenote nasceu recentemente e é o centro das atenções da sua progenitora. Embora por vezes tenha permissão para explorar e brincar o meio à sua volta, raramente sai de ao pé da sua mãe. Os outros familiares respeitam-no e vêem brincar com ele de tempos em tempos, deixando-o em paz quando a progenitora o exige. Nas primeiras semanas ainda mamava constantemente, embora já apresentasse vontade de se alimentar tal como a progenitora, pedindo para comer o mesmo que ela.
   A forma como a mãe transporta a cria é realmente incrível e não há confirmação de que seja assim que os gibões transportam as crias. Embora se compreenda os benefícios desta técnica, pois permite que os braços se encontrem mais livres para a sua rápida movimentação.
   Embora raramente venham ao chão no seu meio natural, num meio artificial por vezes sentem essa necessidade. Por vezes, enquanto se alimentam deixam cair a comida e acabam vir para o chão acabar de comê-la.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Lontras (Lutra lutra)

   A lontra-europeia, Lutra lutra, são animais silenciosos e difíceis de observar directamente no seu habitat natural, por isso, qualquer observação é sempre espectacular e rara. Fugindo um pouco ao que habitualmente escrevo, vou desta vez relatar o que observei e não descrever a espécie ao pormenor.
   Num final de tarde simples, sem grandes cores, sem grandes descobertas, apenas um pequeno passeio para desanuviar e descansar a cabeça dos trabalhos. Deparei-me a vaguear sem rumo, até chegar a um pequeno charco. Observei galeirões a fugir, galinhas-de-água aflitas com a minha presença, e a água a mexer-se, e a mexer-se, e a mexer-se. Não parecia nenhum animal a fugir, por isso, primeiras suspeitas era que seriam lontras. Olhei para a outra margem e lá estavam elas, um pouco longe para a objectiva, mas facilmente observáveis.
   Ao inicio pareciam-me apenas duas lontras. Mas depois de analisar melhor as imagens, é possível verificar que são 3 lontras diferentes. Foi a primeira observação naquele preciso local, e nunca antes foram observados dejectos delas na zona, o que levanta várias questões. É possível observar uma das lontras a afastar-se de outras duas que estarão à luta uma com a outra. Levantam-se várias questões, serão elas residentes a expulsar uma invasora? Ou será, esta “invasora” que está a expulsar um novo casal à procura de novo território? Se estão a expulsar, serão mesmo residentes? A última questão, será que são crias e estão apenas na brincadeira?
   Não pude ficar a observá-las, não possuía a adequada camuflagem e preferi afastar-me para não as afugentar do local. No futuro tentarei observá-las, e mais importante documentar a vida delas. Alguma ideia?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Musaranho-de-Dentes-Brancos

   Ainda me questiono se devo ou não partilhar estas fotografias de um Musaranho-de-Dentes-Brancos (Crocidura russula). O animal foi fotografado já morto, embora estivesse vivo alguns minutos antes. Encontrava-se dentro do court de ténis em Sacavém, no centro da cidade. Era odiado e mal amado, "transportador de doenças" e "deviamos de matá-lo já!", isto foi o que ouvi, embora ninguém o tenha morto depois de convencidos de que ele não fazia mal nenhum...apenas tinha fome e queria banquetear-se com uns insectos. A história deste pequenote começou numa manha bem cedo, quando fui treinar ténis. Enquanto realizávamos um jogo de treino, avistei algo a mover-se perto da rede e não hesitei em ir ver o que era. Imaginem qual foi o meu espanto quando vi este pequeno musaranho à procura de comida junto à rede.


   Claro que não consegui terminar o treino, a principal preocupação era o bem-estar do animal. O court de ténis é um local perigoso para estes pequenotes, especialmente se se encontra alguém a jogar. Podem ser pisados ou levar uma bolada, mesmo que a bola venha simplesmente junto ao chão, eles são demasiado frágeis para aguentar com a pancada. Por isso, estavamos constantemente a verificar onde ele se encontrava para não o magoar-mos. O treino acabou e pude observá-lo sem nunca o agarrar (eles são pequenos mas mordem bem!!).

   O campo encontra-se dividido em placas, e na junção existe uma pequena falha que fica cheia de restos de folhas, entre outros, e a técnica dele era percorrer todas estas falhas na esperança de apanhar algum insecto desprevenido. Existem também alguns buracos nos muros que rodeiam o court onde ele conseguia entrar (e sair do court porque estes buracos escoam a água para o exterior do campo) e passado uns segundos voltava a aparecer em marcha-atrás. Andei largos minutos deitado no chão a observá-lo, pude constatar que a sua visão não parece ser muito boa mas que possuem uma excelente audição, bastava raspar as unhas no chão e ele vinha a correr ver o que se passava. O seu focinho pontiagudo também o ajuda a capturar os insectos.

   Durante alguns dias ele era o centro das atenções, até ao dia em que decidi ir fotografá-lo. Recebi o sms a confirmar que ele estava lá no campo e que ainda estava vivo 4 dias depois do primeiro encontro e fui a correr com a máquina para o fotografar. Cheguei ao campo e não o via, até que o encontrei morto numa das falhas. Possivelmente alguma bola atingi-o e ele não resistiu. O conflito com os seres humanos é sempre o maior problema para estes animais, muitas vezes confundidos com ratos. Por isso apenas o fotografei já morto, mas nunca irei esquecê-lo e os bons momentos que nos proporcionou.