Por mais do que uma vez me perguntaram se era possível ser
um cientista, isto é, um biólogo, e ser um fotógrafo de vida selvagem ao mesmo
tempo. Não só e possível como deveria de ser obrigatório! Como cientista
(investigador) já participei em inúmeras investigações e lidei com diferentes espécies,
desde aves, anfíbios, mamíferos, repteis, peixes, insectos, entre outros. No
entanto, tudo o que fazíamos seguia uma série de regras de segurança e
bem-estar animal. Em nenhum momento sentimos que o nosso trabalho em prol da ciência
viria a alterar profundamente a própria natureza. Os estudos com uma vertente
científica permitem avançar no conhecimento que temos sobre as espécies e no
final podem contribuir para a sua conservação. Mas onde encaixa a fotografia de
vida selvagem? A fotografia de vida selvagem permite divulgar estas espécies e
trabalhos ao público que não está habituado a observa-las em estado selvagem ou
nalguns casos desconhecendo que tais espécies existem em Portugal e que por
isso merecem ser conservadas. A fotografia aliada à ciência pode ainda permitir
descortinar alguns pormenores mais difíceis de observar, como variações de
plumagem em determinados indivíduos, ou a leitura de anilhas no campo sem ter
de recapturar a ave, entre outros pormenores. Então mas porque existe um
conflito tão grande entre ambos? Não vou entrar muito neste tema, mas sim
concentrar-me numa pequena história que aconteceu recentemente.
No entanto, por detrás de todo o trabalho de construir abrigos fotográficos existe um outro intuito, o estudo científico. Ao mesmo tempo que os abrigos eram
desenhados e montados demos início a um plano de conservação que passava pela
monitorização da fauna. A
anilhagem criou um novo conflito com os fotógrafos: redes vs fotografia.
Numa das últimas
sessões de anilhagem tivemos o primeiro grande conflito. Quando um fotógrafo de
vida selvagem decidiu ir aos abrigos tirar fotografias. Foi avisado na recepção
que tínhamos estado a anilhar, mas não sabiam informar se ainda estávamos ou
não a anilhar. Durante as voltas à rede o técnico responsável pela anilhagem
naquele dia deparou-se com o fotógrafo de vida selvagem a cortar
deliberadamente as redes para soltar as aves, algumas ainda embrulhadas na
rede. Ao tomar esta atitude ele danificou material de anilhagem dispendioso e a
sua “boa ação” pôs em risco o bem-estar das aves. Sendo que algumas continuavam
entrelaçadas nas finas redes.
Esta atitude prova que pode ser impossível a convivência
entre cientistas e fotógrafos nos moldes atuais, e que algo terá de ser
modificado para permitir que as atividades científicas decorram sem
perturbações. Anteriormente falei sobre a atitude de alguns fotógrafos que
gostam de mexer nos abrigos à sua maneira, estragando as sessões para os que
vierem a seguir, estas atitudes continuam e tem vindo a agravar-se com poleiros
removidos e partidos deliberadamente (link). Com todos estes problemas em mente algo
terá de mudar nos próximos tempos.
Respeitem a natureza, respeitem os animais e respeitem os
outros fotógrafos e visitantes do espaço.
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