Os mamíferos são os animais mais
difíceis de fotografar em Portugal, se formos até África existem imensas
espécies que conseguimos observar e fotografar facilmente. Regressando ao
panorama nacional, um pequeno estudo revela-nos que a maioria das espécies
apresenta comportamentos noturnos. Esta característica é uma grande desvantagem
para nós humanos, pois a nossa visão é muito má durante o período noturno. Se a
nossa é má, a da câmara ainda é pior. Por isso focá-los durante a noite é
impossível, a não ser que tenham um holofote muito potente, mas nesses casos
podemos assustá-los com a luz forte e apenas os vemos a fugir.
Uma das soluções é tentar
fotografá-los ao lusco-fusco, tanto ao nascer como ao pôr-do-sol. No caso da
lontra-europeia (Lutra lutra), tive
alguma sorte em encontrá-las, mas acabou por envolver uma enorme preparação.
Inicialmente observei-as a brincar numa charca ao final do dia, o resultado
desta observação levou-me a passar algumas tardes junto ao local onde as
observei uns dias antes, mas sem sucesso. A estratégia virou-se para tentar
fotografá-las de manhã, isso implicava montar o abrigo antes do nascer do sol e
esperar não ser detetado por elas. Com o sol a nascer às 7h, era imperativo
estar no abrigo por volta das 6h, o que implicava acordar às 5h30 e caminhar
durante 15 minutos com a tralha toda às costas em plena escuridão. A tralha
incluía um abrigo, a mochila com a máquina fotográfica e a objectiva, o tripé,
um saco de cama e uma manta. Sim, um saco de cama e uma manta, pois o local
onde estava a fotografar fica na região de Évora e no inverno todas as noites
caía uma geada que congelava tudo, inclusive o sistema de rega. Ou seja, toda a
proteção contra o frio intenso era bem-vinda, acabava por ter de levar também um
gorro, dois pares de luvas (porque só um não era suficiente), duas calças e
vários casacos (alguns daqueles usados para a neve).
Montar o abrigo tem de ser
rápido, deixando todas as luzes apagadas e permanecendo o mais escondido possível.
Usualmente ficava atrás do abrigo enquanto prendia as estacas, caso o vento
levantasse já não teria de me preocupar em segurar o abrigo.
As primeiras horas de espera são
as piores. Primeiro porque não sabemos se fizemos tudo bem, depois porque ainda
está de noite e não vemos nada, no entanto, aproveitamos para começar a preparar tudo. Montamos
o tripé e colocamos a máquina, ajustamos o ISO e verificamos a velocidade, esta
tarefa terá de ser feita de 20 em 20 minutos, mesmo que não estejamos a
fotografar. Desta forma asseguramos-nos que temos a máquina pronta para quando
as lontras aparecerem. Quando a luz estabiliza, por volta de 2 horas depois do
sol nascer, o processo abranda, no entanto, temos de ter sempre em atenção os
locais à sombra.
Depois de tudo feito basta apenas
dar ao gatilho. Ter em atenção que só se devem mexer ou fotografar quando as
lontras estiverem relaxadas. Caso alguma delas olhe para o local do abrigo ou
venha na direção do abrigo, olhem para outro lado e permaneçam totalmente imóveis,
parando de fotografar. Quando ela relaxar, podem retomar a sessão fotográfica.
Resumo:
Habitat – rios, ribeiras, lagos,
lagoas, albufeiras, zonas húmidas;
Alimentação – peixes, anfíbios;
Equipamento – abrigo, tele-objectiva;
Época do Ano – todo o ano;
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